Books of 2022
XENOFOBIA E RACISMO
Xenofobía y racismo en el Mundo Antiguo (Barcelona: Edicions de la Universitat de Barcelona, 2019, 266 páginas, 30 euros), organizado por Francisco Marco Símon, Francisco Pina Polo e José Remesal Rodríguez, aborda questões sobre a xenofobia e o racismo na Antiguidade. Embora reconheçam que estes não são conceitos antigos, por meio da análise de textos históricos, filosóficos, discursos e pela epigrafia, os autores argumentam ser possível encontrar práticas xenófobas e racistas nestas fontes, tanto na construção da alteridade quanto nas práticas às quais essa alteridade era submetida. Fatores como língua, etnia e religião são mobilizados para justificar a dominação e ridicularização de certas populações dentro do Império Romano, mesmo por parte de outros grupos sob dominação romana. Por fim, o livro aborda como discursos contemporâneos se valem de ideias da Antiguidade para justificar práticas racistas e xenófobas atuais.

MULHERES ROMANAS
Em Women and Society in the Roman World: A Sourcebook of Inscriptions from the Roman West (Cambridge; Nova York, Cambridge University Press, 2020, 345 páginas, 130 dólares), Emily Hemelrijk apresenta um catálogo de inscrições do século I a.C. ao século III d.C., para investigar o que essas inscrições podem nos dizer sobre as mulheres da Antiguidade. O livro é organizado em sete capítulos temáticos, abordando temas como relações sociais e familiares, ocupações, posições religiosas, afazeres públicos, mobilidade geográfica e o reconhecimento cívico. A abordagem da autora não se concentra em uma classe social específica, mas trânsita entre diferentes grupos de mulheres, de escravas domésticas às imperatrizes, para argumentar como a epigrafia permite acessar os interesses, papéis sociais, construção de valores e como essas mulheres escolheram ser descritas e recordadas.

CONVERSAS POLÍTICAS
Em Political Conversations in Late Republican Rome (Oxford, Oxford University Press, 2022, 304 páginas, capa dura, 100 dólares), Cristina Rosillo-López explora a importância de conversas políticas fora dos ambientes institucionais da República Romana. Apesar de trabalhar majoritariamente com fontes produzidas por Cícero e outros membros das elites, a autora ressalta a importância da “política extra-institucional” e as formas como informações e opiniões são obtidas e discutidas fora dos ambientes oficiais da política, enfatizando como concordâncias e discordâncias dependem de condições sociais para poderem ser expressas. A autora também discute como pessoas de fora das elites senatoriais, como libertos, por exemplo, entram e circulam nos meios senatoriais para advogar por seus próprios interesses. Ao final do livro, a autora inclui um apêndice com todas as menções aos atores não-senatoriais mencionados nas fontes trabalhadas.

PALESTINA ROMANA
Em Class and Power in Roman Palestine. The Socioeconomic Setting of Judaism and Christian Origins (Cambridge University Press, 2019, 353 páginas, 29,99 dólares), Anthony Keddie investiga as formas de organização socioeconômicas do início da dominação da Palestina pelos romanos (63 a.C.-70 d.C.). Com uso de documentação literária (neotestamentária e Flávio Josefo), material (utensílios de mesa, lâmpadas, vestimentas, práticas mortuárias), e análises comparativas com outras províncias, Keddie analisa as mudanças ocorridas em campos como desenvolvimento urbano, propriedade de terras e organização do trabalho, impostos, economia religiosa, e materialidade. Assim, constata que, apesar da obtenção de pequenas melhorias nas condições de vida das não-elites, a integração econômica ao Império aprofundou as desigualdades em relação às elites. Ao reintroduzir questões de classe, distinções sociais e agência das não-elites, Keddie aponta para uma leitura dos textos analisados enquanto contribuições materiais de uma mudança ideológica de classe face às desigualdades da Palestina romana.

MULHERES EM POMPEIA E HERCULANO
Women’s lives, women’s voices: Roman material culture and female agency in the Bay of Naples (Austin, University of Texas Press, 2021, 360 páginas, 55 dólares) é uma coletânea de estudos, editada por Brenda Longfellow e Molly Swetnam-Burland, sobre experiências de mulheres de diferentes grupos sociais em Pompeia e Herculano. Dividido em três seções temáticas, o livro aborda as construções identitárias públicas e comerciais das mulheres, os modos como elas se autoidentificavam e como eram identificadas por outros e, por fim, como compreender suas vivências por meio das representações idealizadas com as quais foram qualificadas. Com amplo uso de documentação material, dos espaços construídos aos grafites, as autoras de todos os capítulos buscam ultrapassar interpretações que conferiam às mulheres apenas experiências e expectativas enquanto esposas e mães. Enfatizam, para tanto, os modos de ação das mulheres nas relações que mantinham em contextos sociais mais amplos, realizados por meio de suas atuações na família, no trabalho e nas práticas religiosas.

OLEIROS GREGOS
Em Potters at Work in Ancient Corinth: Industry, Religion, and the Penteskouphia Pinakes (ASCSA, Atenas e Princeton, 2022, 448 páginas, capa mole, 75 dólares), Eleni Hasaki analiza cerca de 100 pinakes, placas de argila decorada, que representam cenas de trabalho em olarias, provenientes de um sítio no sudoeste de Corinto. A autora apresenta aspectos gerais do sítio arqueológico e dos pinakes, para, então, discutir o que chama de “quase um blog visual” do cotidiano dos oleiros: iconografia, tecnologia, organização do trabalho e dos trabalhadores, e sua religião. Para a autora, essas representações são cruciais para compreender o ofício e a tecnologia da cerâmica grega, iluminando também aspectos mais amplos das comunidades de artesãos na Grécia antiga. O livro também inclui um catálogo com as pinakes analisadas.
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HISTÓRIA CULTURAL DO TRABALHO
A Cultural History of Work in Antiquity (London: Bloomsbury, 2020, 232 páginas, £25.99) é o volume dedicado à Antiguidade (sobretudo, o mundo greco-romano, entre 500 a.C.-450 d.C.) da série em seis livros sobre História Cultural do Trabalho, da editora Bloomsbury, que procura redimensionar o trabalho para além da economia. Editado por Ephraim Lytle, a obra segue a mesma organização da coleção, com capítulos que tratam de representações imagéticas de trabalhadores, locais e formas de organização cultural do espaço de trabalho, habilidades e tecnologias empregadas na prática laboral e as relações entre trabalho e mobilidade, sociedade, cultura política e lazer. Os capítulos demonstram, em conjunto, um esforço para superar pressuposições teóricas modernas sobre ideologias na Antiguidade a respeito do valor negativo da prática laboral. Assim, exploram evidências literárias e materiais para compreender as formas de organização e o universo do trabalho e dos trabalhadores na Antiguidade.

CENAS COTIDIANAS
Em A guide to scenes of daily life on Athenian vases (Madison, University of Wisconsin Press, 2020, 272 páginas, brochura, US$34.95), John Oakley fornece um vasto catálogo de cenas quotidianas presentes em vasos atenienses datados entre 630-320 a.C. Tais cenas foram extraídas de uma variedade de suportes cerâmicos, de jarros para transporte (pithoi) até frascos de perfumes (lekythoi), produzidos por meio das três grandes tradições técnicas áticas (de figuras negras, figuras vermelhas e de fundo branco). As fontes estão divididas em dez capítulos temáticos, dos quais cabe ressaltar aqueles relacionados aos espaços domésticos e de trabalho, aos ambientes da cidade e do campo. Este guia permite a visualização de formas e suportes de representação das práticas de grupos subalternos e provê ferramentas para questionar seus graus de representatividade e das condições de produção, consumo e uso desses objetos figurados.

ESCRAVOS NA GRÉCIA ANTIGA
Em Slaves and Slavery in Ancient Greece (Cambridge, 2021, 277 p., £18.99), Sara Forsdyke questiona como era ser um escravo na Grécia Clássica (500-300 a.C.). Partindo da definição de escravidão no pensamento grego, Forsdyke investiga, então, a trajetória dos escravizados desde os processos de escravização, os trabalhos que realizavam e as etnias relacionadas a trabalhos específicos até seus mecanismos de fuga, escape, bem como sua influência na cultura grega. A investigação é realizada por meio de fontes literárias, epigráficas, materiais, legais, discursivas, bem como por uma abordagem a contrapelo dos documentos produzidos pelos senhores de escravos. A autora argumenta que precisamos compreender a escravidão grega como uma experiência plural e central na sociedade grega para não reproduzirmos uma imagem incompleta e mistificante da própria Grécia Antiga.

ESCRAVOS NO EGITO ROMANO
Em L’esclave dans l´Égypte romaine : choix de documents traduits et commentés (Liège: Presses Universitaires de Liège, 2020, 150 páginas, 14 euros), Jean Straus apresenta uma seleção de fontes, traduzidas por ele e outros estudiosos para o francês, sobre a escravidão no Egito Romano. Dentre as 157 fontes apresentadas, a maioria são papiros e ostraka, mas são incluídos, também, textos literários e epigráficos. O livro ainda oferece ferramentas para auxiliar a consulta e a transcrição dos documentos em suas línguas originais, a exemplo do Duke Data Bank of Documentary Papyri, mapas do Egito e da região de Fayyum, glossário sobre eventos, termos úteis para a compreensão dos textos, etc. Os documentos são organizados por temas, tratando desde a escravidão como instituição até as ações, sentimentos, conflitos e interações entre escravizados e entre escravos e livres.

MULHERES CRISTÃS
Em Mulheres nos Cristianismos Paulinos (Rio de Janeiro: Kliné, 2021. R$30,00), Juliana B. Cavalcanti explora os modos de participação de mulheres nos primeiros movimentos cristãos. Seu estudo se opõe àquilo que a autora vê como um processo multissecular de silenciamento sobre a atuação das mulheres nas primeiras comunidades cristãs. A partir de uma crítica documental do corpus paulino, acompanhada de análise vocabular, comparações com inscrições e análise iconográfica, Cavalcanti realiza estudos de caso sobre as formas de participação das mulheres na difusão e consolidação de saberes e práticas religiosas desses primeiros cristianismos. Personagens como mulheres comuns, viúvas ricas e lideranças religiosas como Tecla estão presentes numa narrativa que combina história e arqueologia.

EGIPTOLOGIA
The People of the Cobra Province in Egypt: A Local History, 4500 to 1500 BC (Oxford, Oxbow Books, 2020, 288 p., Capa dura, 55 euros), de Wolfram Grajetzki, é um livro pioneiro na Egiptologia por propor o estudo da história do Egito antigo, entre 4500 e 1500 a.C., a partir de baixo. Adotando uma abordagem marxista da escrita da história, Grajetzki realiza um estudo micro-histórico da província de Cobra (Uadjet), explorando evidências arqueológicas do cemitério de Qau, bem como fontes escritas de âmbito local e regional. Seu objetivo é investigar como as classes trabalhadoras dos pequenos vilarejos egípcios viviam e eram afetadas pelas decisões dos governantes. Por fim, mas não menos importante, o autor inova ao refletir sobre como o contexto político contemporâneo e as origens sociais dos egiptólogos têm marcado as visões sobre o passado egípcio predominantes na disciplina .

MARIA E AS MULHERES CRISTÃS
Mary and Early Christian Women: Hidden Leadership (Cham, Suíça: Palgrave MacMillan, 2019, 295 páginas, capa dura: 31 dólares; pdf: em acesso livre neste link), de Ally Kateusz, aborda como os estudos sobre Maria, mãe de Jesus, tendem a colocá-la como figura secundária e modelo de obediência feminina, apesar da ampla evidência iconográfica e em textos apócrifos indicarem o oposto. Por meio da análise dessas fontes, a autora argumenta como é possível identificar um protagonismo de mulheres, sobretudo de Maria, nas primeiras comunidades cristãs, e como seu silenciamento ocorreu devido aos conflitos internos da igreja sobre papéis de gênero e ao preconceito de escribas em descrever cenas de protagonismo feminino, seja batizando, pregando ou profetizando. Por meio da iconografia, a autora questiona a ascensão do culto mariano, colocando-o como anterior à datação canônica. Também enfatiza Maria como figura de autoridade, observando que seu apagamento como tal é político.
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REVOLTAS ESCRAVAS
Rome’s Sicilian Wars: The Revolts of Eunus and Salvius, 136-132 and 105-100 BC (Pen & Sword Military, 2020, 256 páginas, 49,55 dólares) é um estudo de Natale Barca sobre duas revoltas escravas que aconteceram na Sicília durante o final da República Romana. A primeira revolta foi liderada por Euno, um ex-escravo e profeta, e a segunda por Sálvio, um flautista. As revoltas tiveram a participação de escravos e livres que proclamaram Euno e Sálvio reis e foram brutalmente reprimidas pelas autoridades romanas. Barca discute os fatos das revoltas por meio do contraste e crítica da documentação literária, redigida por elites romanas hostis a elas, reconstrói o contexto político e social da Sicília no período, e defende que os participantes contestavam o próprio controle romano sobre a região, o que diferencia essas revoltas das posteriores, como a de Espártaco.

LIBERTOS E CULTURA NO IMPÉRIO ROMANO
Em Freed Slaves and Roman Imperial Culture: Social Integration and the Transformation of Values (Cambridge; New York, Cambridge University Press, 2018, 216 páginas, capa dura, 108 dólares), Rose MacLean analisa as estratégias empregadas por libertos para mover-se socialmente e como as elites reagem e se adaptam a essas estratégias. Valendo-se de fontes literárias e epigráficas, a autora busca contrapor o viés elitizado das fontes literárias com aquelas produzidas pelos próprios libertos. A autora também discute como os libertos não podem ser vistos isoladamente, mas em interação diária com escravos e pessoas livres. Por fim, a autora também analisa, do ponto de vista dos próprios libertos, os efeitos práticos da manumissão, tais como rompimentos, continuidades, os impactos em seus descentes, e a linguagem escolhida por eles para falarem sobre si mesmos.

PORTADORES DE CARTAS
Em The Bearers of Business Letters in Roman Egypt (Peeters, 2022, 64 páginas. disponível em: https://archive-ouverte.unige.ch/unige:159492), Paul Shubert investiga os portadores de cartas no Egito Romano do século I ao III, resgatando algumas experiências das pessoas comuns que possibilitaram a comunicação em longas distâncias no período. O estudo é desenvolvido a partir de cerca de 2.000 cartas de negócio selecionadas pelo autor entre mais de 60.000 por identificarem de maneira explícita ou implícita seus portadores. A partir delas, além da estrutura formal de comunicação, Shubert investiga as experiências dos portadores no próprio transporte das cartas, bem como em outras atividades e serviços que poderiam realizar em conjunto, a exemplo de portadores de outros itens e de dinheiro, de informações, dentre outras.

EM CASA NO EGITO ROMANO
Em At Home in Roman Egypt: a Social Archaeology (Cambridge, Cambridge University Press, 2021, 350 páginas, capa dura, 89,83 dólares), Anna Lucille Boozer discute, por meio da teoria social e uma extensa documentação papirológica e arqueológica, a vida cotidiana de “pessoas comuns”, sobretudo de mulheres e crianças. Abordando temas como brincadeiras, educação, relacionamentos (casamento, divórcio, métodos contraceptivos e abortos), cuidados com o corpo, religião doméstica, doenças e morte, a autora oferece uma visão da vida cotidiana no Egito romano, destacando transformações e continuidades, por exemplo, em práticas mortuárias e relativas à reprodução antes, durante e após a ascensão do cristianismo. Assim, a autora visa demonstrar como essas pessoas são agentes ativos na história e contribuem para mudanças culturais mais amplas.

OS IRMÃOS GRACO
Em La svolta dei Gracchi tra prassi politica e violenza nei reflessione storiografica (Sevilla: Prensas de la Universidade de Zaragoza, 2022, 230 páginas, 21,15 euros) Chantal Gabrielli sublinha que o assassinato dos irmãos Graco foi interpretado como causa do declínio da República Romana na reflexão de historiadores antigos e modernos. Partindo desse pressuposto, seu objetivo é investigar esta reflexão a partir de perspectivas variadas, colocando em foco, sobretudo, seus aspectos jurídico-institucionais. Apesar desse enfoque , cabe ressaltar a importância do evento para discussões sobre, por exemplo, mobilização popular no período. A esse respeito, a autora contrasta alguns discursos normativos que investiga com registros de vozes populares, literários e epigráficos, que sugerem, por vezes, percepções distintas sobre o evento.

CLASSE E CRISTIANISMO
Em The Struggle Over Class: Socioeconomic Analysis of Ancient Christian Texts (Atlanta: The Society of Biblical Literature, 2021, 472 páginas, capa mole US$ 61.04), coletânea de estudos organizada por G. Keddie, M. Flexsenhar e S. Friesen, pesquisadores do Novo Testamento e do Cristianismo das origens buscam analisar, de forma crítica, as categorias socioeconômicas utilizadas para compreender textos cristãos antigos. Eles testam, em especial, as diferentes concepções de “classe” (Marxista, Weberiana, etc), bem como suas relações com outras formas de diferenciação social (etnia, gênero, religião, etc), para a compreensão de cinco categorias de fontes: as epístolas, a tradição Sinótica, João e os Atos, textos apocalípticos e a literatura patrística. A partir dessas fontes, eles investigam como, por exemplo, construções identitárias de classe, divergências e conflitos daquele tempo podem ser apreensíveis a partir dos conceitos discutidos. Os autores também abordam temas como a vida doméstica, a escravidão, o casamento, as práticas mortuárias, associações de trabalho e afiliações religiosas.

ESCRAVOS NA ANTIGUIDADE TARDIA
Slavery in the Late Antique World, 150-700 CE (Cambridge University Press, 2022, Capa dura, 359 p., $ 120), editado por Chris L. de Wet, Maijastina Kahlos e Ville Vuolanto, é uma coletânea de estudos sobre a escravidão e as condições de vida dos escravizados na Antiguidade Tardia em suas variações culturais e geográficas. O livro e o resultado do esforço de uma equipe composta por membros dos Estados Unidos, da África do Sul, da Europa e da América Latina. Os autores colocam em perspectiva os escravizados nas regiões periféricas do Império Romano e apresentam a abordagens históricas comparativas, fontes escritas em cóptico, siríaco, árabe, latim e grego, e uma diversidade de inscrições e papiros. Também discutem as relações entre escravidão e discursos sociais, gênero, faixa etária e etnicidade, entre outros assuntos. Esta diversidade de temas, abordagens e fontes torna a obra uma ótima introdução às pesquisas mais recentes sobre a temática neste período histórico específico.

GEOGRAFIA ILETRADA
Em Illiterate geography in classical Athens and Rome (Routledge, 2020, 278 p., Capa dura, $128,00 [eBook $39,16]), Daniela Dueck investiga a circulação de conhecimentos geográficos por meios auditivos e visuais entre os grupos iletrados de Atenas e de Roma em seus períodos de expansão (508-338 a.C. e 264 a.C.-14d.C.). Os documentos investigados pela autora se tratam de comunicações orais preservadas por escrito, performances públicas e não textuais, bem como materiais visuais, permitindo-a acessar informações geográficas transmitidas para além dos pequenos círculos das elites letradas. O livro demonstra, assim, que muita informação geográfica circulava entre as populações de Atenas e de Roma, estimulando novas investigações acerca da construção e da transmissão desses conhecimentos entre os grupos subalternos no Mediterrâneo Antigo.

ATENAS NAS MARGENS
Em Athens at the margins: pottery and people in the early Mediterranean world (Princeton, Princeton University Press, 2021, 344 páginas, 45 dólares), Nathan Arrington estuda o surgimento e a difusão da cerâmica grega de estilo protoático em Atenas, no século VII a.C. Sua abordagem parte da recusa do paradigma explicativo “orientalizante” e do enfoque nas práticas de consumo das elites. Arrington concentra-se nas interações estabelecidas nas margens e por marginalizados: tanto no âmbito geográfico (nos contatos entre Atenas, a Ática e o Mediterrâneo), quanto social (nas relações de produção e consumo dos objetos). Para isto, investiga os contextos materiais de ateliês, necrópoles, santuários e simpósios. Vale ressaltar seu enfoque na cooperação de artesãos para a grande variabilidade estilística da cerâmica protoática. Contudo, cabe conferir até que ponto as experimentações e diversidade dos objetos estariam conectadas com a alegada falta de hegemonia cultural e a suposta indistinção sociocultural entre as elites e os demais atores sociais.

INSTRUMENTOS DE ESCRITA
Em Manual of Roman Everyday Writing Vol. 2 Writing Equipment (LatinNow ePubs, 2021, e-book, disponível para download aqui), Anna Willi introduz os leitores aos instrumentos de escrita utilizados para a produção de textos manuscritos no Império Romano. O catálogo de equipamentos discutidos inclui utensílios para escrita (estilete, cálamo, pincel) e suportes (madeira, papiro, pergaminho, metais e outros), além de vários outros acessórios (como tintas, estojos, espátulas, etc.). O catálogo é precedido por uma útil apresentação dos aspectos sociais da escrita e das técnicas utilizadas para se escrever no Império Romano. Ainda que ressaltando o prestígio social associado à escrita na sociedade romana, a autora demonstra como a escrita era também utilizada de forma funcional em comércios, centros de produção e acampamentos militares por pessoas sem educação formal e não apenas por homens, mas também por mulheres.

ESCRITA CURSIVA ROMANA
Em Manual of Roman Everyday Writing Vol. 1 Scripts and Texts (LatinNow ePubs, 2021, e-book, disponível para download gratuito aqui), Alan Bowman e Alex Mullen apresentam um manual para a leitura e compreensão de documentos escritos em cursiva romana, ou seja, a escrita do dia a dia. Os autores descrevem os tipos de documentos que utilizam essa escrita, as principais publicações com esses documentos acompanhadas por links para acesso. O livro também oferece exemplos práticos sobre o aprendizado e os usos da escrita em diferentes partes do Império Romano, demonstrando como pessoas de diversas classes sociais aprendiam e utilizavam o latim de diferentes maneiras, seja nos centros produtores de cerâmica, nos acampamentos militares ou em funções da administração provincial.
